29 de maio de 2011

Opostos






" [...] Diogo gostava de caminhar em silêncio, atento à paisagem, aos sons, às plantas e aos bichos, absorto na sua observação e nos seus pensamentos. Pedro caminhava numa permamente inquietação: ora tentava surpreender os pássaros com a sua fisga, ora corria atrás das vacas para as espantar, ora se atardava a contar as ovelhas para confirmar que o rebanho estava completo, ora batia com um pau nos sobreiros para ver se não estavam secos por dentro, não se esquecendo nunca de verificar o algarismo escrito a cal na casca das árvores, indicando o ano da próxima tirada de cortiça, de tal modo que, quando voltava a passar pelo mesmo local, ele já conhecia as árvores não pelo seu aspecto ou porte, mas pelo algarismo escrito na sua casca.

Mas, mesmo diferentes como eram, Diogo amava profundamente o irmão, como a mais ninguém.[...] "



in Rio das Flores by Miguel Sousa Tavares

1 de maio de 2011