18 de julho de 2011

Saudade Benigna





"[...] procurou um silêncio limpo como uma folha muito limpa onde pudesse escrever uma frase mais digna e disse, um dia essa saudade vai ser benigna. a lembrança da sua esposa vai trazer-lhe um sorriso aos lábios porque é isso que a saudade faz, constrói uma memória que nós nos orgulhamos de guardar, como um troféu de vida. um dia, senhor silva, a sua esposa vai ser uma memória que já não dói e que lhe traz apenas felicidade. a felicidade de ter partilhado consigo um amor incrível que não pode mais fazê-lo sofrer, apenas levá-lo à glória de o ter vivido, de o ter merecido. [...]


in "a máquina de fazer espanhóis" by Valter Hugo Mãe


1 de julho de 2011

Mudança



Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!

Clarice Lispector

29 de maio de 2011

Opostos






" [...] Diogo gostava de caminhar em silêncio, atento à paisagem, aos sons, às plantas e aos bichos, absorto na sua observação e nos seus pensamentos. Pedro caminhava numa permamente inquietação: ora tentava surpreender os pássaros com a sua fisga, ora corria atrás das vacas para as espantar, ora se atardava a contar as ovelhas para confirmar que o rebanho estava completo, ora batia com um pau nos sobreiros para ver se não estavam secos por dentro, não se esquecendo nunca de verificar o algarismo escrito a cal na casca das árvores, indicando o ano da próxima tirada de cortiça, de tal modo que, quando voltava a passar pelo mesmo local, ele já conhecia as árvores não pelo seu aspecto ou porte, mas pelo algarismo escrito na sua casca.

Mas, mesmo diferentes como eram, Diogo amava profundamente o irmão, como a mais ninguém.[...] "



in Rio das Flores by Miguel Sousa Tavares

1 de maio de 2011

2 de abril de 2011

No céu.



Vem.

Eu espero aqui.

Absorve-me, desgasta-me, preenche-me, rouba-me, leva-me, descobre-me, traz-me.

Faz.

Eu espero aqui, como um peixe no céu.

23 de março de 2011

Dias assim.

Barra @ Mar´11


Um céu azul, um sorriso, uma palavra, um gesto e um sol brilhante.

Dias assim... são menos difíceis!

9 de março de 2011

Misturas.


A vida é uma tela branca em que cada um é responsável por aquilo que vai pintando.

Quando se opta por grandes misturas, misturas arriscadas e perigosas, corre-se o risco de se perder uma grande e digna obra-de-arte para se ganhar uma bela borrada.

Há que respeitar a mistura das cores. Cada uma com a sua individualidade, poder e graciosidade. Cada uma no seu lugar (ainda que bem misturada).

27 de fevereiro de 2011

Hojes.



Dias que nos obrigam a mudar a perspectiva.

Pessoas que nos levam a mudar de lugar.

Horas que nos prendem a pensamentos desgastantes.

Noites que nos bloqueiam o sono.

Lugares que nos fazem sonhar com aquela pessoa, naquele tempo e naquele espaço.

O sorriso nasce. A vontade é fortalecida. O desejo mais forte.

17 de fevereiro de 2011

(imagem retirada de: http://cheiroaterramolhada.wordpress.com/2010/02/23/398/long_road_to_ruin_by_mario19-3/)


"and I wished for so long...
I cannot stay
All the precious moments...
Cannot stay
It's not like wings have fallen...
I cannot say
Without you something is missing...
I cannot say

(...)

I have wished for so long...
How I wish for you today
Will I walk the long road?
We all walk the long road."

12 de fevereiro de 2011

in the end.

"O amor verdadeiro encontrar-te-á por fim,
então perceberás quem era teu amigo,
Não estejas triste, sei que não é fácil,
mas não desistas até que
o amor verdadeiro te encontre por fim.

Esta é uma promessa com uma cilada:
só o encontrarás se o procurares,
porque o amor verdadeiro também te está a procurar a ti.
Como te reconhecerá se não dás um passo em direcção à luz?
Por isso não deves desistir até que
o amor verdadeiro te encontre por fim."


True love will find you in the end
by Daniel Johnston

25 de janeiro de 2011

Tu(do).




Hoje vi uma estrela que era cadente.

Se era para pedir desejo, não o fiz.

Quando me lembrei de o fazer, só me ocorreu:

Tenho Tu(do)! Fá-lo Tu por mim.


20 de janeiro de 2011

Abandono.


Abandonar para ganhar a sã loucura de ir, correr e buscar.

Perder para ficar com o vazio que enche o coração.

Desligar para consertar o botão que nos faz ver, viver e querer.

Despreender para agarrar o que mais importa.

Ir com o pôr-do-sol.

13 de janeiro de 2011

Ausência.


"diz-me que solidão é essa
que te põe a falar sozinho
diz-me que conversa
estás a ter contigo

diz-me que desprezo é esse
que não olhas p'ra quem quer que seja
ou pensas que não existe
ninguém que te veja

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos


lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente

mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar

diz-me que loucura é essa
que te veste de fantasia
diz-me que te liberta
de vida vazia

diz-me que distância é essa
que levas no teu olhar
que ânsia e que pressa
que queres alcançar

que viagem é essa que te diriges em todos os sentidos andas em busca dos sonhos perdidos"

António Variações - Sempre Ausente